O Mart









O Museu de Arte Religiosa e Tradicional (Mart) está vinculado ao Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), uma autarquia federal criada pela Lei 11.906 de 20 de janeiro de 2009. O Museu abriu suas portas ao público em 15 de dezembro de 1982, com a exposição de fotografias “Cabo Frio – Mar, Terra e Povo”, do pesquisador de história e fotógrafo Márcio Werneck da Cunha.

O Mart está sediado no antigo Convento de Nossa Senhora dos Anjos, edificação franciscana, construída ainda durante o período colonial (século XVII), que compõe a paisagem cultural da cidade de Cabo Frio (RJ). Sua preservação é garantida em lei, não apenas em nível municipal pela Prefeitura de Cabo Frio, mas também em nível nacional, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

A sede do Mart é referência para a história de Cabo Frio e região, acompanhando as memórias dos que viveram ou escutaram as narrativas de seus pais e avós sobre o antigo Convento. Esse simbolismo é reforçado pelo funcionamento de um museu no local, que ali realiza atividades de preservação e pesquisa do acervo, exposições temporárias, ações educativas e culturais.



Crianças se divertem no Brincando no Mart com o projeto Feito pra Brincar (Acervo: Mart/Ibram).
Fotógrafo: Manoella Évora (Equipe Mart/Ibram). Ano: 2019.*


O Convento de Nossa Senhora dos Anjos

Em 1º de abril de 1617, Estêvão Gomes, capitão-mor, com o poder de conceder sesmarias, atendeu à petição dos povoadores de Nossa Senhora da Assunção do Cabo Frio e autorizou a construção de um convento franciscano aos pés do morro do Itajuru (atualmente conhecido como morro da Guia).

Da cessão das terras ao início da construção do convento em Cabo Frio, passaram-se quase sete décadas. Em 1684, frades vieram a Cabo Frio para deflagrar os preparativos para a obra e, em 1686, houve o lançamento da pedra fundamental, no dia 02 de agosto, dia de Nossa Senhora dos Anjos, a padroeira da ordem franciscana e orago do Convento.

Em 13 de janeiro de 1696 o Convento foi inaugurado. Amantes da natureza, os franciscanos que viveram no Convento de Nossa Senhora dos Anjos tinham por hábito realizar incursões ao morro do Itajuru, de onde podiam apreciar a deslumbrante vista panorâmica da região.

Ao longo do século XVIII, período áureo da ordem franciscana no Brasil colonial, o Convento de Nossa Senhora dos Anjos aumentou o número de moradores e aconteceram obras de ampliação e de adaptação do edifício. Na primeira metade do século XIX, ainda ocorreram obras de melhoria das estruturas.

A imagem mostra o Convento N. S. Anjos na primeira metade do séc. XIX. Litografia: Convento de Nossa Senhora dos Anjos em Cabo Frio, Estado do Rio, por um Anônimo. Rio de Janeiro,
Officina de Heaton e Rensburg [1845-1846].
Crédito da Imagem: Acervo da Fundação Biblioteca Nacional – Brasil.


Porém, no início dos oitocentos, o Convento já demonstrava dificuldades. O número de frades diminuía significativamente e, com isso, os recursos de que a casa religiosa dispunha para a sua manutenção, caso da ordinária, paga por cada frade que vivia no local. Nessa época, os franciscanos também começaram a perder os terrenos que, originalmente, compunham o entorno.

Frei Vitorino de S. Felicidade faleceu em 1872 e foi o último frade a ocupar o Convento de Nossa Senhora dos Anjos em Cabo Frio. Não havia mais religiosos para viver no local. Desocupado, o Convento perdeu bens móveis e integrados e houve a supressão de suas áreas construídas.

Ao longo da primeira metade do século XX, cabofrienses que possuíam relação afetiva com o Convento, tentaram conter a sua degradação apelando para empresários da região e destacando o valor histórico do monumento, embora ele ainda não fosse um bem tombado.

Áreas perdidas do Convento na primeira metade do séc. XX. Convento de Nossa Senhora dos Anjos. (1940)
Fotografia: Wolney Teixeira.
Crédito da Imagem: Acervo Wolney Teixeira/ Acervo do Escritório Técnico da Região dos Lagos- Iphan RJ (imagem digitalizada).


Até que, em 1957, o Convento de Nossa Senhora dos Anjos foi preservado como patrimônio nacional, inscrito no Livro do Tombo das Belas Artes do Iphan. A partir daí, o órgão federal realizou uma série de ações para a manutenção de sua estrutura, com base em relatos encaminhados pelos moradores de Cabo Frio.

Foi quando, diante das ameaças causadas pela ação das intempéries sobre o edifício, os técnicos do Iphan sugeriram a instalação de um “pequeno museu regional” de arte sacra nas ruínas, como forma de preservar o antigo Convento por monitoramento contínuo.


Nas palavras do arquiteto do Iphan, responsável pela instalação do Mart no Convento, Edgard Jacintho da Silva:

Bom, o mais importante talvez seja Cabo Frio. Este monumento causou preocupação desde a primeira vez que o conhecemos, porque o Convento, propriamente, já estava arruinado. (…) Com o decorrer do tempo, se não houvesse uma providência efetiva, os paredões reminiscentes do primitivo convento se acabariam também, desaparecendo com a continuidade desse processo de desgaste que em seguida atingiria a igreja do convento que se achava desativada e, da mesma forma, exposta aos agentes destrutivos naturais e humanos. Nesta emergência, como medida de exceção, propusemos à direção da SPHAN [Iphan] a reconstrução parcial de apenas um corpo frontal do Convento com o seu alpendre, trabalho que foi baseado na documentação fotográfica obtida. (…) E assim resultou o museu denominado de Arte Religiosa e Tradicional.

(SPHAN Memória Oral Depoimento de Edgard Jacintho nº 4. Ministério da Cultura, Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Fundação Nacional Pró-Memória, Rio de Janeiro, 1988)

*Caso você se reconheça ou identifique algum parente nas fotografias e não deseje que a imagem continue disponível, faça contato conosco: mart@museus.gov.br.