Instituto Brasileiro de Museus
Museu de Arte Religiosa e TradicionalExposição “Da Mãe África ao antigo Cabo Frio”: o artista, Edimar Lopes, conta sobre a criação das pinturas
Confira entrevista com o artista Edimar Lopes
Aberta ao público, desde o dia 05 de agosto deste ano, a exposição “Da Mãe África ao Antigo Cabo Frio” tem sido muito bem recebida por todos que a visitam. Até o momento, mais de 2.500 pessoas já estiveram a visitando, entre esses, alguns deixaram diversos elogios e reflexões registradas no livro de recados para o autor, como esta mensagem de uma visitante: “Aprendi muita coisa que eu não conhecia, meus olhos se encantaram com essas artes. Parabéns!”.
A exposição retrata as memórias de africanos escravizados, trazidos para a região do antigo Cabo Frio, que aqui deixaram suas culturas e religiosidades eternizadas. As obras, de autoria do artista, foram criadas a partir dos relatos de Dona Eva Maria, Eva Maria de Oliveira, quilombola centenária, neta de ex-escravizados, que vive no Quilombo da Rasa, em Armação dos Búzios (RJ).
As obras já percorreram outros espaços: escolas públicas em Armação dos Búzios e Cabo Frio; o Espaço Cultural Zanini, Arte e Cultura, em Armação dos Búzios; a Biblioteca Municipal Prof. Walter Nogueira de Cabo Frio (BPMCF) e foi apresentada em exposição aberta na Praça São Benedito, no bairro da Passagem, em Cabo Frio.
Edimar Freitas Lopes é professor de biologia, nascido em Duque de Caxias (RJ). Hoje com 49 anos, veio para Cabo Frio a trabalho e ficou apaixonado pela cidade e sua história. Descobriu seu talento para a arte há seis anos, como forma de arteterapia. Edimar bateu um papo conosco e nos contou um pouco sobre seu trabalho:
Mart – Onde você se inspirou para a realização deste trabalho?
Edimar – A ideia inicial era pintar pontos turísticos “na visão do antigo Cabo Frio”. Após conversar com colegas, professores e especialistas da área de história e religião, surgiu a ideia de relatar o processo escravocrata na região e quais os seus reflexos nos dias atuais. E, assim, após a indicação do professor Thiago Paulo Almeida (professor de história, sociologia e religião em escolas de Cabo Frio), fomos até a dona Eva Maria e, a partir dos seus relatos, trouxe para as telas a história da vivência no Quilombo da Rasa (localizado em Armação dos Búzios). Houve ainda um importante auxílio do meu irmão, Eduardo Freitas, e do professor de história, André Garrido.
Mart – Qual foi a primeira obra produzida?

Edimar – A tela “O Quilombo de Dona Eva Maria (A vida no quilombo)”, onde é retratado um pouco da vivência e da história do Quilombo da Rasa.
Mart – Gostaríamos que falasse um pouco sobre a tela “A face da mãe de todos”:
Edimar – A tela, em que faço a referência à “Mãe África”, faz uma alusão ao formato do continente africano e ao rosto triste e choroso de uma mulher com turbante (acessório usado para enrolar ou cobrir a cabeça, comum entre mulçumanos, indianos e africanos). A parte da pintura que se assemelha ao olho, seria o Lago Vitória (Lago Victoria Nyanza, na África Oriental), que forma os principais rios do continente e está localizado numa região em que os índices de contaminação por HIV são alarmantes! … Não foi fácil para mim fazer essa tela… Ela tem um significado muito pesado por buscar retratar a dor de pessoas que foram obrigadas a virem para o Brasil, na base da força e violência, deixando suas famílias para trás. Não gosto de tratar da dor, como no quadro “Olhai por nós”, que retrata um homem acorrentado ao pelourinho, sendo açoitado em público no espaço em que hoje é a Praça Porto Rocha em Cabo Frio.

Mart – Conte-nos um pouco sobre sua relação com o professor Thiago Paula Almeida e a tela em que fez para homenageá-lo?
Edimar –O Thiago Almeida é um grande amigo pessoal e de trabalho. É professor de história, sociologia e religião. Ele foi figura fundamental para a criação da sequência de telas que compõe a exposição, pois foi ele quem nos levou até a dona Eva Maria e a dona Uia, moradoras do Quilombo da Rasa em Armação dos Búzios.
Mart – Para a exposição foi produzida uma obra especial em homenagem ao antigo Convento de Nossa Senhora dos Anjos e às lavadeiras, mulheres que vinham até a frente do convento no século XX para lavar roupas das famílias abastadas da cidade, a obra “As lavadeiras do convento”:

Edimar – A proposta surgiu em conversas com a equipe do museu para homenagear o antigo Convento de Nossa Senhora dos Anjos, sede do museu, e as lavadeiras. O quadro também remete a um projeto em que, através das telas, relato a realidade dos escravizados no pós-abolição e seus impactos nas profissões, caso dos passarinheiros, salineiros, pedreiros, pescadores, domésticas e, claro, das lavadeiras.
Expediente:
Exposição: “Da mãe África ao Antigo Cabo Frio”
Pinturas e maquetes: Edimar Freitas Lopes (@tio.edi)
Local: sala de exposições temporárias do Museu de Arte Religiosa e Tradicional
Entrada: gratuita
Horários para visitação: Terça a sexta-feira: 10h às 17h; Sábados: 10h às 14h
Mais informações: (22) 98154-0088; (22) 98154-0086 ou mart.educativo@museus.gov.br
Texto: Carlos Henrique Silva
Supervisão: Flávia Franchini